Os dois lados do espelho
Olho para o meu reflexo e penso...
Como a vida te marcou! Marcou-te com marcas indeléveis e com cicatrizes profundas.
O espelho não mente. És o passado e o presente. Só. Estas duas dimensões transcendem a tua própria incompletude mas definem-te mesmo assim.
Como os teus olhos são tão diferentes de outros que já vi nesse mesmo sítio. Como olham... Como queimam!
O teu corpo... como se ajusta a esse espelho.
O meu reflexo olha para mim e pensa...
Quem me dera ser tu. Ter um corpo e não ser apenas luz. Ter sensações. Ter vida. Quando sais da frente deste pedaço de vidro deixo de existir. E falas tu da tua incompletude. Eu que não sou nada sem ti. Que vivo quando queres. Que desapareço num momento. Tenho mudado, sim. Mas mudo sozinho. Este passado e este presente são meus, não teus. Pedaços da minha vida que existem nos teus olhos porque eu existo nesses momentos. Não és tu esse de quem te lembras. Sou eu. Se estivesses deste lado verias que não mudaste. Tu só vês a luz do teu reflexo. Eu vejo-te a ti.
Este pequeno texto serve para me lembrar que a visão subjectiva do mundo depende muito da natureza intrínseca do onthos racional que o problematiza.
A consciência do ser e do não-ser permite encontrar a posição relativa de um em relação aos outros. A relativização da experiência empírica subjectiva, que, a par dos processos racionais que permitem a intelegibilidade dessa experiência, formam a base da consciência do mundo e do ser, impede a comunicação entre dois seres colocados em posições relativas diferentes.
Como ilustração desta relatividade de cognoscência do mundo e do ser, podemos referir que, neste contexto, um ser racional será sempre, para outro, um não-ser, ainda que de natureza semelhante.
A criação de símbolos que se refiram a experiências semelhantes só será eficaz no estabelecimento de uma comunicação inter-subjectiva se ambos tiverem consciência das correcções necessárias ao significado de cada símbolo devido à diferente posição relativa do emissor e do receptor.
No espelho, o onthos de cada sujeito é diferente. Logo, por isso, a comunicação é impossível porque a relativização correctiva, sendo possível em seres da mesma natureza, não o é em seres de natureza diferente.
Este axioma justifica-se no facto de as experiências de cada um serem insusceptíveis da correcção referida quando comunicadas por símbolos, dado que nem um, nem outro, saberia a posição relativa da contraparte em relação ao resto do mundo. Isso acontece porque estão em mundos diferentes. Os dois lados do espelho.
Como a vida te marcou! Marcou-te com marcas indeléveis e com cicatrizes profundas.
O espelho não mente. És o passado e o presente. Só. Estas duas dimensões transcendem a tua própria incompletude mas definem-te mesmo assim.
Como os teus olhos são tão diferentes de outros que já vi nesse mesmo sítio. Como olham... Como queimam!
O teu corpo... como se ajusta a esse espelho.
O meu reflexo olha para mim e pensa...
Quem me dera ser tu. Ter um corpo e não ser apenas luz. Ter sensações. Ter vida. Quando sais da frente deste pedaço de vidro deixo de existir. E falas tu da tua incompletude. Eu que não sou nada sem ti. Que vivo quando queres. Que desapareço num momento. Tenho mudado, sim. Mas mudo sozinho. Este passado e este presente são meus, não teus. Pedaços da minha vida que existem nos teus olhos porque eu existo nesses momentos. Não és tu esse de quem te lembras. Sou eu. Se estivesses deste lado verias que não mudaste. Tu só vês a luz do teu reflexo. Eu vejo-te a ti.
Este pequeno texto serve para me lembrar que a visão subjectiva do mundo depende muito da natureza intrínseca do onthos racional que o problematiza.
A consciência do ser e do não-ser permite encontrar a posição relativa de um em relação aos outros. A relativização da experiência empírica subjectiva, que, a par dos processos racionais que permitem a intelegibilidade dessa experiência, formam a base da consciência do mundo e do ser, impede a comunicação entre dois seres colocados em posições relativas diferentes.
Como ilustração desta relatividade de cognoscência do mundo e do ser, podemos referir que, neste contexto, um ser racional será sempre, para outro, um não-ser, ainda que de natureza semelhante.
A criação de símbolos que se refiram a experiências semelhantes só será eficaz no estabelecimento de uma comunicação inter-subjectiva se ambos tiverem consciência das correcções necessárias ao significado de cada símbolo devido à diferente posição relativa do emissor e do receptor.
No espelho, o onthos de cada sujeito é diferente. Logo, por isso, a comunicação é impossível porque a relativização correctiva, sendo possível em seres da mesma natureza, não o é em seres de natureza diferente.
Este axioma justifica-se no facto de as experiências de cada um serem insusceptíveis da correcção referida quando comunicadas por símbolos, dado que nem um, nem outro, saberia a posição relativa da contraparte em relação ao resto do mundo. Isso acontece porque estão em mundos diferentes. Os dois lados do espelho.