A Odisseia 

             A viagem de uma vida... a solidão, a companhia, o desespero, a amizade, 

            o amor, as desventuras... a partilha de um estado de espírito. É, sem dúvida, uma Odisseia.

 

sexta-feira, março 04, 2005

Com os olhos pesados de lágrimas.

Olhei para o telefone. Continuava no mesmo sítio onde estava há momentos atrás. Silencioso e quieto no seu cantinho da arca antiga da minha avó.
Olhei de novo. As teclas haviam chamado por mim. Queria ir tocá-las com tanta vontade. Queria premir a sequência tantas vezes desenhada no teclado que já havia gasto a tinta dos números. Afinal, três anos é algum tempo.
Olhei de novo. Afastei o olhar impelido por uma vontade intermitente. Tão forte e tão fraca quase ao mesmo tempo. Tão doce e tão ácida, tão amarga e tão aliciante, tão tola.

Passei alguns dias assim… meses, quem sabe… resistindo. Ainda ouvi a voz dela uma vez, mas desliguei. Venceu a razão, a razão indómita que me segura ainda hoje.

Quantas vezes pensei em pegar no carro e sair dali, de ao pé daquele telefone… mas ela podia telefonar a dizer que tinha sido um devaneio, um erro, uma mentira, um engano, um delírio, um desatino, um pesadelo.

Acordei. Acordei todos os dias com os olhos pesados de lágrimas. Acordei todas as manhãs com vontade de perder a razão… aquela razão indómita que me prende ainda hoje. Não a perdi.

Com o tempo, o desejo de ouvir a voz dela desapareceu. Com o tempo deixei de precisar da razão para me segurar. Deixei de querer humilhar-me por um pouco de amor doente, traído. Por um desejo, frígido agora.

Com o tempo consegui acreditar naquilo que disse ontem, que encontrarei o amor de novo... e talvez desta vez não deixe de amar. Mas foi doloroso o caminho.
Ainda bem que não a vi mais. Talvez a razão já não me prendesse e eu estaria certamente infeliz.