Uma moça, na flor da idade,
Com um filho, fruto de seu amor,
Teve, um dia, de mostrar lealdade,
Lealdade pelo seu senhor.
Nativa d ’África, vendida quando nova,
Alegre, prazenteira e bem disposta,
Cavou, por amar um escravo, a sua cova.
O seu filho, do seu amor resposta,
Negro, desamparado, mas feliz,
Nasceu, sem saber,
Marcado p’ra morrer
Como o destino quis.
No mesmo dia em que seu futuro Rei veio ao mundo,
A criança, por quem a escrava nutria um amor profundo,
Nasceu, para que, pelos valores de sua mãe,
Fosse trocado pela vida d ’alguém,
Alguém qu’era a esperança do Reino.
Essa pessoa, órfã de pai
E chorada pela mãe,
Sentia,
Tod ’o dia, a mão carinhosa,
A face que quand’o pegava se sentia orgulhosa
Por seu filho ser irmão de leite de seu Rei.
A aia gostava de seu futuro Senhor,
Mas amava o seu filho,
No entanto era leal à religião do seu amor
Que professava a vida depois de deixar o ninho,
Depois de passar aquela prova de dor:
A morte que não esqueçe ninguém no seu caminho.
O tio daquele anjo que dormia
Ao lado do filho da nossa aia,
Sabendo o irmão morto, na desolada areia de uma praia,
Avançou, como um lobo que da desgraça vantagem tira,
Pelos vales devastando e aterrorizando
O povo que misericórdia pedia.
A Rainha, chorante, nada fazia,
Era uma singela mulher qu’amando
Certamente se sentia sozinha...
Até que, numa noite, iludindo a Guarda Real,
Dois vultos, acordando a aia de um sono divinal,
S’acercaram do berço da pequena esperança que o povo tinha,
De fugir da tirania do soberano do mal...
Quem me dera que não tivessem acordado aquela menina!
Pois quando os ouviu,
Correu, correu, mas não fugiu
Do pesadelo que vivia.
Falava, nela, mais alto a lealdade
Que a fez, tremendo, mudar de berços as crianças;
Coisa que, na verdade,
Do seu filho tirava as esperanças
De um dia ser maior de idade...
Depois desse instante, um monstro, um diabo,
Arrancou do berço dourado
O corpo franzino de um bébé.
Aquele monstro, ali, defronte da jovem mãe,
Matou e levou também,
A prova de uma grande fé...
Passados poucos instantes,
A Rainha, com os olhos faiscantes,
De dor, de perda, de desespero,
Viu o berço de seu filho vazio,
E caiu no chão a chorar...
Entretanto a aia levantou-se
E do berço pobr’acercou-se,
Mostrando um bebé louro, divino,
Que num despreocupado soninho
Ás mãos de sua mãe foi parar.
Nesse momento, como que cortando o silêncio existente,
A voz do Capitão da guarda,
-Homem que fazia jus à farda -
Anunciou a morte daquele bastardo descrente,
E do filho da escrava também...
A Rainha, tomando a aia pela mão,
Promete-lhe um tesouro, que não cura o coração,
Mas a escrava, decidida, aceita;
E, com tod ’a Corte à espreita,
Dirigem-se ao tesouro real.
As portas abrem-se, e todos ficam espantados
Com a quantidade de tesouros acumulados
Numa sala, toda ela especial.
O brilhar dourado do ouro
Contrastou com o negro da pele da escrava,
- A única que não ficou maravilhada
Com a prata, com os diamantes, e com o coro
De vozes que cochichavam suposições -.
Agora, a nossa leal e ferida aia, escolhia um punhal,
Digno dum Conde, dum Duque, dum representante Real,
E a aprovação passou por todos os corações.
No entanto, e num singular momento,
Seu corpo proclamou seu último alento
P’ra provar a fé, que era grande,
Pois antes que seu filho a chame,
-Como boa mãe - já antes lá queria estar.
E, olhando a multidão em seu redor,
Cravou em seu peito o punhal, prova do seu amor -,
E seu filho foi amamentar...