A Odisseia 

             A viagem de uma vida... a solidão, a companhia, o desespero, a amizade, 

            o amor, as desventuras... a partilha de um estado de espírito. É, sem dúvida, uma Odisseia.

 

sexta-feira, maio 20, 2005

Ontem, hoje e sempre.

Desejo...
Um desejo pela vida que se vive sempre...
Sem pensar em tudo o que a preenche,
Sem querer que esse desejo desapareça
Ontem, hoje e sempre.

terça-feira, maio 17, 2005

The Meaning of Life...

Uma das perguntas mais difíceis de responder é, provavelmente, “qual o sentido, o significado, da vida?”
Sem falsas pretensões de responder a essa pergunta, quero deixar aqui um apelo sincero. Mais do que encontrar uma resposta para esta pergunta, a tarefa mais compensadora é a de pensar na pergunta em si mesma.
Será que a vida deve ter um significado ou existimos apenas para existir. Se tem um significado, é igual para todos ou diferente para cada um de nós? Se é diferente como conhecê-lo senão pensando na pergunta e encontrando a resposta em nós mesmos.
É este o meu apelo.

segunda-feira, maio 09, 2005

A Aia

Uma moça, na flor da idade,
Com um filho, fruto de seu amor,
Teve, um dia, de mostrar lealdade,
Lealdade pelo seu senhor.

Nativa d ’África, vendida quando nova,
Alegre, prazenteira e bem disposta,
Cavou, por amar um escravo, a sua cova.

O seu filho, do seu amor resposta,
Negro, desamparado, mas feliz,
Nasceu, sem saber,
Marcado p’ra morrer
Como o destino quis.

No mesmo dia em que seu futuro Rei veio ao mundo,
A criança, por quem a escrava nutria um amor profundo,
Nasceu, para que, pelos valores de sua mãe,
Fosse trocado pela vida d ’alguém,
Alguém qu’era a esperança do Reino.

Essa pessoa, órfã de pai
E chorada pela mãe,
Sentia,
Tod ’o dia, a mão carinhosa,
A face que quand’o pegava se sentia orgulhosa
Por seu filho ser irmão de leite de seu Rei.

A aia gostava de seu futuro Senhor,
Mas amava o seu filho,
No entanto era leal à religião do seu amor
Que professava a vida depois de deixar o ninho,
Depois de passar aquela prova de dor:
A morte que não esqueçe ninguém no seu caminho.

O tio daquele anjo que dormia
Ao lado do filho da nossa aia,
Sabendo o irmão morto, na desolada areia de uma praia,
Avançou, como um lobo que da desgraça vantagem tira,
Pelos vales devastando e aterrorizando
O povo que misericórdia pedia.

A Rainha, chorante, nada fazia,
Era uma singela mulher qu’amando
Certamente se sentia sozinha...

Até que, numa noite, iludindo a Guarda Real,
Dois vultos, acordando a aia de um sono divinal,
S’acercaram do berço da pequena esperança que o povo tinha,
De fugir da tirania do soberano do mal...

Quem me dera que não tivessem acordado aquela menina!
Pois quando os ouviu,
Correu, correu, mas não fugiu
Do pesadelo que vivia.

Falava, nela, mais alto a lealdade
Que a fez, tremendo, mudar de berços as crianças;
Coisa que, na verdade,
Do seu filho tirava as esperanças
De um dia ser maior de idade...

Depois desse instante, um monstro, um diabo,
Arrancou do berço dourado
O corpo franzino de um bébé.
Aquele monstro, ali, defronte da jovem mãe,
Matou e levou também,
A prova de uma grande fé...

Passados poucos instantes,
A Rainha, com os olhos faiscantes,
De dor, de perda, de desespero,
Viu o berço de seu filho vazio,
E caiu no chão a chorar...

Entretanto a aia levantou-se
E do berço pobr’acercou-se,
Mostrando um bebé louro, divino,
Que num despreocupado soninho
Ás mãos de sua mãe foi parar.

Nesse momento, como que cortando o silêncio existente,
A voz do Capitão da guarda,
-Homem que fazia jus à farda -
Anunciou a morte daquele bastardo descrente,
E do filho da escrava também...

A Rainha, tomando a aia pela mão,
Promete-lhe um tesouro, que não cura o coração,
Mas a escrava, decidida, aceita;
E, com tod ’a Corte à espreita,
Dirigem-se ao tesouro real.

As portas abrem-se, e todos ficam espantados
Com a quantidade de tesouros acumulados
Numa sala, toda ela especial.

O brilhar dourado do ouro
Contrastou com o negro da pele da escrava,
- A única que não ficou maravilhada
Com a prata, com os diamantes, e com o coro
De vozes que cochichavam suposições -.

Agora, a nossa leal e ferida aia, escolhia um punhal,
Digno dum Conde, dum Duque, dum representante Real,
E a aprovação passou por todos os corações.

No entanto, e num singular momento,
Seu corpo proclamou seu último alento
P’ra provar a fé, que era grande,
Pois antes que seu filho a chame,
-Como boa mãe - já antes lá queria estar.

E, olhando a multidão em seu redor,
Cravou em seu peito o punhal, prova do seu amor -,
E seu filho foi amamentar...

sábado, maio 07, 2005

Os dois lados do espelho

Olho para o meu reflexo e penso...
Como a vida te marcou! Marcou-te com marcas indeléveis e com cicatrizes profundas.
O espelho não mente. És o passado e o presente. Só. Estas duas dimensões transcendem a tua própria incompletude mas definem-te mesmo assim.
Como os teus olhos são tão diferentes de outros que já vi nesse mesmo sítio. Como olham... Como queimam!
O teu corpo... como se ajusta a esse espelho.

O meu reflexo olha para mim e pensa...
Quem me dera ser tu. Ter um corpo e não ser apenas luz. Ter sensações. Ter vida. Quando sais da frente deste pedaço de vidro deixo de existir. E falas tu da tua incompletude. Eu que não sou nada sem ti. Que vivo quando queres. Que desapareço num momento. Tenho mudado, sim. Mas mudo sozinho. Este passado e este presente são meus, não teus. Pedaços da minha vida que existem nos teus olhos porque eu existo nesses momentos. Não és tu esse de quem te lembras. Sou eu. Se estivesses deste lado verias que não mudaste. Tu só vês a luz do teu reflexo. Eu vejo-te a ti.

Este pequeno texto serve para me lembrar que a visão subjectiva do mundo depende muito da natureza intrínseca do onthos racional que o problematiza.
A consciência do ser e do não-ser permite encontrar a posição relativa de um em relação aos outros. A relativização da experiência empírica subjectiva, que, a par dos processos racionais que permitem a intelegibilidade dessa experiência, formam a base da consciência do mundo e do ser, impede a comunicação entre dois seres colocados em posições relativas diferentes.
Como ilustração desta relatividade de cognoscência do mundo e do ser, podemos referir que, neste contexto, um ser racional será sempre, para outro, um não-ser, ainda que de natureza semelhante.
A criação de símbolos que se refiram a experiências semelhantes só será eficaz no estabelecimento de uma comunicação inter-subjectiva se ambos tiverem consciência das correcções necessárias ao significado de cada símbolo devido à diferente posição relativa do emissor e do receptor.

No espelho, o onthos de cada sujeito é diferente. Logo, por isso, a comunicação é impossível porque a relativização correctiva, sendo possível em seres da mesma natureza, não o é em seres de natureza diferente.
Este axioma justifica-se no facto de as experiências de cada um serem insusceptíveis da correcção referida quando comunicadas por símbolos, dado que nem um, nem outro, saberia a posição relativa da contraparte em relação ao resto do mundo. Isso acontece porque estão em mundos diferentes. Os dois lados do espelho.

As coisas boas da vida

.......................
Perdoem-me se estou a ser injusto...
Mas não me ocorre nada de momento.

sexta-feira, maio 06, 2005

Efémera

Foi efémera minha felicidade,
Por amor nutrida e estimada,
Foi um segundo de tantos que tenho d’idade
Passado cego e de voz calada.

Foi uma vida inteira passada
Em nome de uma alegria triste,
Pois não era feliz, nem sonhada,
Mas tão vã qu’em qualquer tempo existe.

Só que o mais grave desse segundo
Foi a chaga eterna criada
Neste corpo que a recebeu tão fundo...

Foi criada num segundo e por anos m’acompanha,
Essa tristeza tão triste e tão chorada,
Essa dor tão conhecida e tão estranha.

Como as árvores no Outono

Como as árvores no Outono perdi as minhas folhas
Nú, contra as tormentas do Inverno, me encontro.
Como as árvores de folha caduca
Tenho no solo raízes profundas que me impedem de morrer.