A Odisseia 

             A viagem de uma vida... a solidão, a companhia, o desespero, a amizade, 

            o amor, as desventuras... a partilha de um estado de espírito. É, sem dúvida, uma Odisseia.

 

quinta-feira, março 30, 2006

Estranha leveza do ser...

Estranha esta imaculada sensação...
Sinto-me leve, indiferente.
Sinto-me sozinho com a minha solidão.
Estranha esta estranheza... Nunca estranhei antes o facto de estar sozinho...
Mas talvez já seja tempo... de estranhar.
Talvez não queira a companhia comum dos que só procuram sensações vulgares...
Talvez não queira a simples mediania de um amor, amado apenas por uma das partes e tolerado pela outra.
Estranho... Estranho estar sozinho com a minha solidão. Mas ainda bem que me sinto indiferente aos dizeres dos outros...
Talvez eles estranhem o facto de não lhes dar atenção. Ou talvez não seja assim tão estranho.

segunda-feira, março 27, 2006

Olhos distantes

Olhos distantes e perdidos...
Olhos que me olham verdadeiramente.
Olhos que, vencidos, se prostram perante a solidão.

Olhos sofridos, carentes ...
Olhos que me pedem ansiosamente
Pela graça da salvação...

Olhos inundados de lágrimas inocentes...
Olhos taciturnos, mas belos.
Olhos que sem rodeios, me prendem à razão.

Olhos que vivem, que anseiam.
Olhos que amam, que odeiam.
Olhos que respiram, que suspiram, que cativam...
Olhos tristes que pedem um olhar de perdão.

sábado, março 25, 2006

Moinhos de vento

Passeio pelo campo em busca de uma aventura.
Montado no meu Rocinante. Acompanhado fielmente pela solidão.
Vejo moinhos de vento, ao fundo, na planície. Encho o meu peito de coragem e avanço contra os gigantes, não a passo, como os corajosos, mas numa corrida desenfreada, como um louco.
Penso uma última vez na minha nobre Dulcineia, triste e sozinha na imensidão do mundo.
Vejo na alvura imaculada da vela que me rasga a carne, como o braço de um gigante indomável, o reflexo desta loucura. Vejo o ideal distante que procuro, escapar-me pelos dedos.
Mas nem no ultimo momento, quando encontro o pior dos inimigos, a minha esperança se esmoreçe. Sou D. Quixote de la Mancha. O louco que mostra ao mundo a loucura que existe em todos nós. O louco que vive de esperança. O louco que vive de amor. O louco que não desiste por um momento daquilo em que acredita. Se todos fossem assim tão loucos, que mundo, meu Deus, seria este, quando vencidos os moinhos de vento.

quarta-feira, março 22, 2006

Olha para o lado...

Olha para o lado e vê-me com outros olhos.
Sou teu. Mas tu nem pensas em querer-me.
Vejo-te consumida pela dor de um amor antigo,
Que te abandonou sem remorsos, em nome de uma vã liberdade.
Olha para o lado e sente, no meu ombro amigo, a ternura de um sentimento mais profundo.
Olha para o lado. Não estejas sempre a olhar para o futuro.
Ninguém, nele, te compreenderá como eu te compreendo agora.
Olha para o lado e vê-me com outros olhos...
Aqueles que vejo agora perdidos em lágrimas que eu prometo enxugar.

segunda-feira, março 20, 2006

Fénix renascida

Flamingo escarlate que voas para o horizonte e para o sol que te destrói.
Fénix renascida, ano após ano, que encerras a metáfora do meu amor.
Fénix que se debate contra a calcificação das palavras,
Fénix que canta, na madrugada, a liberdade dos sentimentos.
Ano após ano. Fénix renascida. Ano após ano. Prisioneira do amor.
Amor renascido das cinzas do antigo. Amor que não muda.
Escarlate como o flamingo renascido voando para o horizonte de mais um ano perdido. Vivendo para morrer de novo. Eterno.
Amor que incendeia, mas que nunca preenche o coração.

quarta-feira, março 15, 2006

Anjo na madrugada

Acordei com uma sensação estranha.
A minha cama estava mais quente do que o costume.
Olhei para o lado e vi um anjo deitado. A sua face serena... o seu corpo calmo.
Sorri. Lembrei-me da doçura dos momentos passados numa entrega total.
Nesse momento perdi o medo de a beijar. Toquei nos seus lábios e eles retribuíram.
Queria ficar assim o dia todo. Mas... ela levantou-se. Pediu desculpa...
Já estava atrasada.
Eu pensei: Já somos adultos... é um facto. Mas será que não podíamos fazer de conta que a vida é mais cor-de-rosa?
Talvez não. É preciso acordar e saber que o anjo da madrugada é já uma menina crescida. Independente, como eu. Carente, como eu. Mas, também, como eu, uma filha destes tempos. Ficará o carinho e a magia para mais tarde... quando o tempo o permita.